Pablo Lopes
Na década de 50, trabalhadores, sindicalistas e lideranças comunitárias recorrem ao Governador José Feliciano Ferreira e ao prefeito de Goiânia Jaime Câmara para reivindicar um espaço da cidade de Goiânia que represente os trabalhadores. Nesse momento inicia a história do Monumento ao Trabalhador que é atravessada por fortes comemorações e graves atos de vandalismos.
O arquiteto Elder Rocha Lima foi o profissional responsável pela construção dos cavaletes distribuídos por dois semicírculos um de frente ao outro, com um conjunto de oito colunas de concreto de 7 metros de altura. Na parte interna, cada semicírculo era formado por um painel de 1,50 metro dispostos a 1,50 metro do chão. Essa composição física do monumento permitia uma boa visualização das imagens confeccionadas pelo artista plástico Clóvis Graciano (1907-1988). Em pastilhas de cerâmica, essas imagens históricas evocavam cenas do “O Mundo do Trabalho” e “Luta dos Trabalhadores”. Além disso, toda essa estrutura somava-se aos espelhos d´água que ornamentavam um espaço dedicado prioritariamente aos trabalhadores.
O lugar destinado para a construção do Monumento foi a Praça Doutor Novo Americano, às margens da passarela que se encontrava entre a Avenida Independência e a entrada do edifício em frente à Estação Ferroviária de Goiânia, no final da Avenida Goiás. Fundado em 1959, o Monumento ao Trabalhador passa a compor a paisagem urbana goianiense.
Espaço público voltado a reuniões, encontros, shows, manifestações, o Monumento ao Trabalhador passa a se tornar um local de afeto. Nesse espaço público, sindicatos e trabalhadores, passam a comemorar datas festivas importantes como o 1º de Maio. A extensão desse pertencimento repercute na mudança de nome da praça. De Doutor Americano do Brasil, o local passa a se chamar Praça do Trabalhador.
Em 1969, meses depois da promulgação do AI-5 (Ato Institucional nº5), o Comando de Caça aos Comunistas (CCC) derramou piche fervido nas pastilhas, nos desenhos expostos nos cavaletes. Essa primeira agressão ao Monumento o coloca num estado de esquecimento obrigatório, particularmente em relação à memória dos trabalhadores.
Com a fragilidade da política de memória, o processo de vandalismo segue agora uma ordem institucional. A segunda agressão ao Monumento se dá em 1973, quando foi feita a raspagem das pastilhas deterioradas pelo piche fervido sem plano de recuperação da obra ou qualquer estratégia de restauração. Definitivamente, entre 1986 e 1987, os cavaletes de concreto, são retirados sob a alegação de que a Avenida Goiás seria prolongada para o norte da cidade e atravessaria a Praça dos Trabalhadores. 22 palmeiras são plantadas no lugar do Monumento ao Trabalhador.
Em 2018, durante a revitalização da Estação Ferrovia de Goiânia, parte da estrutura do Monumento ao Trabalhador ressurge após retirada das 22 palmeiras que lá estavam. Hoje há concreto.
Assim, pensar sobre a dimensão imaterial do Monumento, estabelecido na relação memória-esquecimento, reforça a continuidade de que ele não pode ser reconstruído em um momento posterior, mas de que se pode reestabelecer o acesso a ele por meio da recordação.
Manifestação de Primeiro de Maio diante do Monumento ao Trabalhador, Goiânia, 1961.
Fotografia de Alois Feichtenberger