Já é consenso para todos que a cultura se faz com pessoas. E quando falamos de manifestações do patrimônio cultural imaterial, isso é ainda mais premente. Mas “pessoas”, assim no plural, ganharam agora uma conotação que sinaliza riscos para a saúde pública, com o frio nome de “aglomeração”. A pandemia causada pelo novo coronavírus colocou em risco a saúde da população mundial e mudou a dinâmica da vida e das manifestações culturais mundo afora. No Brasil, não poderia ser diferente. Tudo o que gera “aglomeração” está suspenso. Ainda que não exatamente pelo governo federal, mas pelo bom senso ou simplesmente em nome da sobrevivência de todos nós.
A pandemia mudou tudo à nossa volta. O cenário que ganhou o apelido de “novo normal” inclui eventos culturais cancelados, museus fechados, salas de cinema vazias e ruas sem gente. Sem previsão de nova data para retomada das atividades, uma cadeia produtiva inteira que começa a se desfacelar frente às proibições de abertura de teatros, de realização de eventos populares e tradicionais. Não há luz num horizonte próximo, e acompanhamos com tristeza a notícia do cancelamento do Festival Cultural de Parintins, por exemplo, que aconteceria no final de Junho.
Então, como manter viva a cultura imaterial de nosso país mesmo neste cenário desolador, quando nossa prioridade é simplesmente manter vivas as pessoas? Vemos aqui e acolá algumas iniciativas do poder público no sentido de fomentar atividades culturais de maneira alternativa para sustentar minimamente a cadeia da economia criativa. São tímidas, porém muito válidas ações. Além disso, a internet e a tecnologia continuam sendo fortes aliadas da cultura, ajudando a difundir e manter viva a chama da cultura popular, mesmo sem as ditas “aglomerações”.
O que cada um de nós pode fazer, individualmente, é ajudar nesta difusão da cultura popular como puder, a fim de que, quando “tudo voltar ao normal”, ainda haja fôlego para manifestações como a do Festival Cultural de Parintins, o Círio de Nazaré, as Cavalhadas de Pirenópolis, e tantas outras manifestações que fazem parte desta rica colcha de retalhos da cultura brasileira.
Nosso papel, na condição de estudiosos da cultura material e imaterial, é o de documentar e contribuir, na medida do possível, para que os agentes culturais envolvidos tenham condições de gerir esta crise e encontrar soluções para reacender a chama da cultura brasileira após esta guerra silenciosa que estamos enfrentando.