Coreto de Goiânia, impressões

Guilherme Talarico

Goiânia já era a nova capital de Goiás no início da década de 1940. Todo o processo de transferência representou não apenas a mera mudança de local para os goianos. Entre a velha cidade de Goyaz e a representação do novo que significou a construção de Goiânia, estava implícita uma mudança também de mentalidade. Ao menos era o que se propunha nos discursos políticos e se nota pelas narrativas dos pioneiros daquele delicado período.

O mundo estava em guerra e a tranquilidade da vida pacata e bucólica da antiga cidade parecia um sonho na “modernidade” agitada do núcleo urbano de Goiânia. A região central da cidade, com seu traçado geometricamente planejado, recheada por repartições e escritórios, em nada favorecia as manifestações populares, os encontros, as conversas à sombra das árvores, a convivência. Ao contrário, o descampado da Praça Cívica exigia a circulação rápida das pessoas, fosse pela imposição do trabalho ou mesmo pelo sol impiedoso.  

A população da nova capital carecia de um marco temporal que representasse seu nascimento. O Batismo Cultural, como foi chamada a inauguração da cidade, em 1942, tinha esse objetivo. Mas, também, e principalmente, teve a função de humanizar a frieza dos traços urbanos modernos. Foi nesse contexto, de minimizar o saudosismo dos goianos (agora goianienses) que surgiram os elementos decorativos e aparelhos culturais da cidade, como o Teatro Goiânia, o Lago das Rosas, a Escola Técnica e, talvez o mais simbólico deste conjunto mobiliário: o Coreto da Praça Cívica.

O Coreto, nas cidades do interior, é o elemento socializante mais significativo, ainda que marcadamente repleto de normas e restrições de seu uso. Em Goiânia, o Coreto da praça traz uma significativa alteração em suas funções e usos. Não foi concebido para ser um espaço de apresentações artísticas, ainda que tenha sido utilizado para esta finalidade inúmeras vezes. Seu espaço interno é formado pelo assento, para as pessoas descansarem, apreciarem a obra urbana de Pedro Ludovico e dos construtores da nova cidade. O Coreto representa o passado, o lúdico e o bucólico no coração da “modernidade” que é Goiânia.

A utilização de pequenos elementos de Art déco nos detalhes do Coreto, fazem deste pequeno monumento uma obra prima urbana. A composição formada entre traços e detalhes geométricos da murada e da platibanda, combinado às curvas sobrepostas do jardim aos bancos internos e o teto, formam um conjunto harmonioso, ao mesmo tempo delicado e sóbrio.

Com os anos, a população se apropriou do Coreto de diferentes formas. Foi local privilegiado, durante as décadas de 1960 e 1970, quando a Feira Hippie acontecia entre a Praça Cívica e a Avenida Goiás, servindo de abrigo para as rodas de conversa da intelectualidade goianiense que se reunia em torno da banca de livros de Paulo Araújo (fundador da Livraria Cultura Goiana). Mas o espaço passou um período obscuro durante o final dos anos 70 e início dos 80, quando foi demolido para dar lugar, ironicamente, a um posto de atendimento a turistas, na forma de um quiosque de estilo totalmente desconexo com o conjunto urbano da Praça Cívica.

O Coreto foi recuperado, felizmente, com o impulso de revitalização do centro histórico da cidade, já no final da década de 1990. O processo de valorização do centro histórico da cidade culminou com o tombamento do conjunto arquitetônico e urbanístico Art déco de Goiânia, em 2002.

O Coreto passou, entre 2019 e início de 2020, por um novo processo de manutenção, absolutamente necessário a todo o conjunto arquitetônico, composto por imóveis públicos, tombados pelo IPHAN. Está, novamente, disposto ali, à frente da Praça. Como porta de entrada para o local mais sofisticado do centro da cidade, com a Praça Cívica também revitalizada como espaço de sociabilidade, com seus prédios públicos em estilo Art déco, mas, principalmente, tentando garantir alguma sensação de civilidade, de humanidade, de tradição, um contraponto à brutalidade do centro da cidade.

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Projeto de Avaliação do Potencial de Impacto ao Patrimônio Arqueológico (PAPIPA)

Diferentemente do PAIPA este trabalho é elaborado com o objetivo de avaliar o potencial de impacto de determinado empreendimento ou atividade sobre o patrimônio arqueológico em uma determinada área. Esse tipo de projeto é elaborado especialmente quando há indícios de que uma determinada região pode conter vestígios arqueológicos significativos e que possam ser afetados por empreendimentos futuros. Ou seja, é um trabalho que avalia a viabilidade de um empreendimento ocorrer em uma determinada área considerando o potencial arqueológico existente.

Para a realização deste trabalho inicialmente é realizado um Levantamento bibliográfico e documental extensivo verificando-se assim dados históricos, arqueológicos e cartográficos sobre a área de estudo, incluindo registros de sítios arqueológicos conhecidos, estudos anteriores e relatórios técnicos por exemplo. Na sequência é realizado levantamentos arqueológicos de campo para identificar vestígios e evidências de ocupação humana na área de estudo. Isso pode envolver caminhamentos, prospecções superficiais, uso de técnicas de sensoriamento remoto, entre outros métodos de pesquisa.

Em gabinete é realizada uma análise dos possíveis impactos do empreendimento sobre o patrimônio arqueológico que venha a existir na área de estudo. Isso pode incluir a previsão de danos, destruição, perturbação ou alteração dos sítios arqueológicos, bem como a proposição de medidas para minimizar ou mitigar esses impactos.

Por fim, o PAPIPA é um instrumento importante para subsidiar decisões sobre empreendimentos que possam afetar o patrimônio arqueológico, contribuindo para sua preservação e conservação.

Ficha de Caracterização da Atividade (FCA)

A ficha de caracterização de atividade é um documento utilizado pelo IPHAN  e tem como objetivo fornecer informações detalhadas sobre as atividades que serão desenvolvidas em determinada área.

Essa ficha é o primeiro item a ser produzido no contexto do licenciamento arqueológico e é parte importante do processo de licenciamento ambiental sendo utilizada para registrar dados específicos sobre as atividades planejadas, tais como a localização, o tipo de empreendimento, as técnicas de execução, o cronograma de obras, as áreas de intervenção, entre outras informações relevantes.

A ficha é bastante completa em relação aos dados do empreendimento sendo preenchido o Nome do empreendimento, responsável pelo projeto, a localização geográfica, o município, o estado, é realizado o detalhamento das atividades que serão realizadas no local, incluindo a finalidade do empreendimento, os métodos de execução as características físicas e topográficas da área de intervenção e em muitos casos é previsto um cronograma de obras.

Em resumo, a ficha de caracterização de atividade é um instrumento importante para registrar e documentar as informações relacionadas às atividades que serão desenvolvidas em determinada área, auxiliando no processo de avaliação e classificação quanto ao nível que o empreendimento possui, podendo variar de I, II, III e IV a depender da atividade e interpretação do IPHAN.