A Floresta Amazônica é conhecida por todos pela sua rica biodiversidade e sua importância para o equilíbrio ambiental do planeta. Mas o que poucos sabem é que para nós, arqueólogos, o chamado “pulmão do mundo” também é um oásis.
A riqueza de vestígios na região amazônica rendeu ao bioma uma espécie de pasta particular na Arqueologia Brasileira: a Arqueologia Amazônica. E foi neste mundo rico e surpreendente que a Habilis esteve mergulhada nos últimos dois anos. Depois de cumprir todas as exigências do Iphan e garantir o licenciamento da obra de duplicação da Rodovia AM 070 (Rodovia Manuel Urbano), o sentimento é de dever cumprido.
Mas como cientistas, que nunca deixamos de ser, nossa satisfação com este trabalho também é notória. Afinal, o Resgate Arqueológico, além de nos proporcionar o contato com vestígios já catalogados, nos permitiu encontrar outros artefatos e ampliar o conhecimento arqueológico sobre a região.
Além do sítio arqueológico Capoeira dos Índios, que já era conhecido de pesquisadores antes da duplicação da rodovia Manuel Urbano, constatamos a existência de outros 5 sítios arqueológicos.
O sítio arqueológico Miranda foi pesquisado a partir da abertura de tradagens em todo o seu entorno, caminhamentos e entrevista com moradores. Percebeu-se que se tratava de um sítio já bastante degradado pelas ações antrópicas recentes. Já o sítio Acreano II também se caracterizou como um sítio degradado, porém em virtude das ações naturais de arenização, que foram acentuadas pela retirada da vegetação. Na superfície, ainda é possível avistar alguns fragmentos por entre as ravinas. O mesmo pode se dizer do sítio Lago do Ubim, onde as constantes enchentes possivelmente acabaram por erodir e mobilizar os vestígios culturais nele presentes. O sítio arqueológico EMBRAPA possui uma extensa mancha de terra preta arqueológica e uma cerâmica que remete a grupos ceramistas da fase Manacapuru, algo entorno de 1.000 D.C. O Kemak, após intensas atividades de prospecção, mostrou-se ser na verdade dois sítios arqueológicos: o primeiro caracteriza-se por uma mancha de terra preta e cerâmica dos grupos Paredão, e a segunda ocupação é formada por uma cerâmica bem friável, com lascas de líticos em seu extrato.
Outra etapa do trabalho foi a troca de conhecimento com a comunidade local. A Educação Patrimonial permitiu que construíssemos com crianças e adultos uma reflexão sobre o passado e o presente da comunidade. Em escolas de Manacapuru e Iranduba, pudemos falar de patrimônio cultural e resgatar saberes milenares daquele local, como a modelagem de potes em barro.
Como não poderia deixar de ser, a Amazônia nos foi desafiadora. Ainda, o próprio projeto nos impôs desafios específicos. Mas, sem dúvida, desbravar e recompor a história daqueles que viveram muito, muito antes do nosso tempo foi, como sempre, uma experiência muito gratificante. Nossa imensa gratidão a todos os profissionais da equipe, das atividades de campo ao minucioso trabalho de laboratório, que mais uma vez fizeram um brilhante trabalho. Que venham as próximas!