Monumento ao Trabalhador (1959-1986/87) lugar de Memória e Esquecimento em Goiânia

Pablo Lopes

Na década de 50, trabalhadores, sindicalistas e lideranças comunitárias recorrem ao Governador José Feliciano Ferreira e ao prefeito de Goiânia Jaime Câmara para reivindicar um espaço da cidade de Goiânia que represente os trabalhadores. Nesse momento inicia a história do Monumento ao Trabalhador que é atravessada por fortes comemorações e graves atos de vandalismos.

O arquiteto Elder Rocha Lima foi o profissional responsável pela construção dos cavaletes distribuídos por dois semicírculos um de frente ao outro, com um conjunto de oito colunas de concreto de 7 metros de altura. Na parte interna, cada semicírculo era formado por um painel de 1,50 metro dispostos a 1,50 metro do chão. Essa composição física do monumento permitia uma boa visualização das imagens confeccionadas pelo artista plástico Clóvis Graciano (1907-1988). Em pastilhas de cerâmica, essas imagens históricas evocavam cenas do “O Mundo do Trabalho” e “Luta dos Trabalhadores”. Além disso, toda essa estrutura somava-se aos espelhos d´água que ornamentavam um espaço dedicado prioritariamente aos trabalhadores.

O lugar destinado para a construção do Monumento foi a Praça Doutor Novo Americano, às margens da passarela que se encontrava entre a Avenida Independência e a entrada do edifício em frente à Estação Ferroviária de Goiânia, no final da Avenida Goiás. Fundado em 1959, o Monumento ao Trabalhador passa a compor a paisagem urbana goianiense.

Espaço público voltado a reuniões, encontros, shows, manifestações, o Monumento ao Trabalhador passa a se tornar um local de afeto. Nesse espaço público, sindicatos e trabalhadores, passam a comemorar datas festivas importantes como o 1º de Maio. A extensão desse pertencimento repercute na mudança de nome da praça. De Doutor Americano do Brasil, o local passa a se chamar Praça do Trabalhador.

Em 1969, meses depois da promulgação do AI-5 (Ato Institucional nº5), o Comando de Caça aos Comunistas (CCC) derramou piche fervido nas pastilhas, nos desenhos expostos nos cavaletes. Essa primeira agressão ao Monumento o coloca num estado de esquecimento obrigatório, particularmente em relação à memória dos trabalhadores.

Com a fragilidade da política de memória, o processo de vandalismo segue agora uma ordem institucional. A segunda agressão ao Monumento se dá em 1973, quando foi feita a raspagem das pastilhas deterioradas pelo piche fervido sem plano de recuperação da obra ou qualquer estratégia de restauração. Definitivamente, entre 1986 e 1987, os cavaletes de concreto, são retirados sob a alegação de que a Avenida Goiás seria prolongada para o norte da cidade e atravessaria a Praça dos Trabalhadores. 22 palmeiras são plantadas no lugar do Monumento ao Trabalhador.

Em 2018, durante a revitalização da Estação Ferrovia de Goiânia, parte da estrutura do Monumento ao Trabalhador ressurge após retirada das 22 palmeiras que lá estavam. Hoje há concreto.

Assim, pensar sobre a dimensão imaterial do Monumento, estabelecido na relação memória-esquecimento, reforça a continuidade de que ele não pode ser reconstruído em um momento posterior, mas de que se pode reestabelecer o acesso a ele por meio da recordação.

Manifestação de Primeiro de Maio diante do Monumento ao Trabalhador, Goiânia, 1961.

Fotografia de Alois Feichtenberger

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Projeto de Avaliação do Potencial de Impacto ao Patrimônio Arqueológico (PAPIPA)

Diferentemente do PAIPA este trabalho é elaborado com o objetivo de avaliar o potencial de impacto de determinado empreendimento ou atividade sobre o patrimônio arqueológico em uma determinada área. Esse tipo de projeto é elaborado especialmente quando há indícios de que uma determinada região pode conter vestígios arqueológicos significativos e que possam ser afetados por empreendimentos futuros. Ou seja, é um trabalho que avalia a viabilidade de um empreendimento ocorrer em uma determinada área considerando o potencial arqueológico existente.

Para a realização deste trabalho inicialmente é realizado um Levantamento bibliográfico e documental extensivo verificando-se assim dados históricos, arqueológicos e cartográficos sobre a área de estudo, incluindo registros de sítios arqueológicos conhecidos, estudos anteriores e relatórios técnicos por exemplo. Na sequência é realizado levantamentos arqueológicos de campo para identificar vestígios e evidências de ocupação humana na área de estudo. Isso pode envolver caminhamentos, prospecções superficiais, uso de técnicas de sensoriamento remoto, entre outros métodos de pesquisa.

Em gabinete é realizada uma análise dos possíveis impactos do empreendimento sobre o patrimônio arqueológico que venha a existir na área de estudo. Isso pode incluir a previsão de danos, destruição, perturbação ou alteração dos sítios arqueológicos, bem como a proposição de medidas para minimizar ou mitigar esses impactos.

Por fim, o PAPIPA é um instrumento importante para subsidiar decisões sobre empreendimentos que possam afetar o patrimônio arqueológico, contribuindo para sua preservação e conservação.

Ficha de Caracterização da Atividade (FCA)

A ficha de caracterização de atividade é um documento utilizado pelo IPHAN  e tem como objetivo fornecer informações detalhadas sobre as atividades que serão desenvolvidas em determinada área.

Essa ficha é o primeiro item a ser produzido no contexto do licenciamento arqueológico e é parte importante do processo de licenciamento ambiental sendo utilizada para registrar dados específicos sobre as atividades planejadas, tais como a localização, o tipo de empreendimento, as técnicas de execução, o cronograma de obras, as áreas de intervenção, entre outras informações relevantes.

A ficha é bastante completa em relação aos dados do empreendimento sendo preenchido o Nome do empreendimento, responsável pelo projeto, a localização geográfica, o município, o estado, é realizado o detalhamento das atividades que serão realizadas no local, incluindo a finalidade do empreendimento, os métodos de execução as características físicas e topográficas da área de intervenção e em muitos casos é previsto um cronograma de obras.

Em resumo, a ficha de caracterização de atividade é um instrumento importante para registrar e documentar as informações relacionadas às atividades que serão desenvolvidas em determinada área, auxiliando no processo de avaliação e classificação quanto ao nível que o empreendimento possui, podendo variar de I, II, III e IV a depender da atividade e interpretação do IPHAN.