Urnas funerárias do século 8 são encontradas no AM, diz pesquisadora

Peças foram achadas durante construção de escola na comunidade Tauary.
Urnas pesquisadas podem ser de indígenas do tronco Tupi.
Moradores do interior do Amazonas tiveram uma surpresa durante a construção de uma escola localizada na comunidade Tauary, na Zona Rural do município de Tefé, a 523 km de Manaus, em março deste ano. Urnas funerárias indígenas foram encontradas no subsolo da área. O achado foi entregue ao Laboratório de Arqueologia do Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá (IDSM) e é objeto de estudo de um projeto de mestrado sobre a ‘Tradição Polícroma da Amazônia’. Estima-se que as peças foram fabricadas a partir do século 8 e podem ajudar a entender a história antiga dos povos indígenas da região.

De acordo com a pesquisadora Jaqueline Belletti, do Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo (USP) e do Laboratório de Arqueologia do IDSM, as peças doadas ainda não podem ser expostas. “As urnas estão guardadas no acervo do IDSM, e ainda estão passando pelos processos de conservação e restauro e pelas análises arqueológicas. Sendo assim, ainda é muito cedo para que elas sejam expostas ao público”, explicou ao G1.

Jaqueline ressalta a importância de se preservar esse tipo de achado e a influência deles em suas pesquisas. “Essas urnas vão nos ajudar a compreender melhor o contexto arqueológico do médio Solimões, pois ainda existem poucos dados para esses materiais na região. Os primeiros dados sobre as urnas farão parte do meu projeto de mestrado, que têm como objetivo um levantamento de sítios arqueológicos com materiais relacionados a Tradição Polícroma da Amazônia no lago Tefé. Mas acredito que em breve outras pesquisas, além da minha, também serão feitas. Achados arqueológicos sempre são importantes para o entendimento do passado e de formas culturais diferentes, preservá-los nos permite estudar esses aspectos”, acredita.

As urnas foram encontradas por moradores de Tefé durante a construção de uma escola e foram transferidas para o IDSM. “Eles se preocuparam em guardá-las da melhor forma possível ao alcance deles. Procurar os arqueólogos para estudarem as peças indica o interesse dos moradores em preservá-las e entendê-las melhor. Os moradores têm acompanhado de perto o trabalho de restauração das peças bem como os demais estudos que estamos realizando. Estamos começando a desenvolver, assim, um trabalho de arqueologia colaborativa entre moradores e arqueólogos”, revelou a pesquisadora.

As peças pesquisadas podem ter pertencido a índios do tronco Tupi. “As urnas ainda não foram datadas, mas o período em que este material ocorre vai do século 8 até o contato com os europeus. Não podemos relacioná-las diretamente com nenhuma etnia, mas alguns pesquisadores acreditam que materiais desse tipo podem estar relacionadas a grupos falantes de línguas do tronco Tupi”, disse ao G1.

As urnas antropomorfas – que apresentam forma humana ou que se assemelha ao ser humano – têm uma ampla dispersão geográfica na Amazônia, explica a pesquisadora. “Esse tipo de urna ocorre desde o Rio Napo (no Peru) até o Rio Madeira, passando pela calha do Solimões e começo do baixo Amazonas. A principal característica dessas urnas é a presença de pintura e a forma antropomorfa. O elemento diferencial dessas urnas é o fato delas estarem colocadas sobre bancos de cerâmica”.


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Projeto de Avaliação do Potencial de Impacto ao Patrimônio Arqueológico (PAPIPA)

Diferentemente do PAIPA este trabalho é elaborado com o objetivo de avaliar o potencial de impacto de determinado empreendimento ou atividade sobre o patrimônio arqueológico em uma determinada área. Esse tipo de projeto é elaborado especialmente quando há indícios de que uma determinada região pode conter vestígios arqueológicos significativos e que possam ser afetados por empreendimentos futuros. Ou seja, é um trabalho que avalia a viabilidade de um empreendimento ocorrer em uma determinada área considerando o potencial arqueológico existente.

Para a realização deste trabalho inicialmente é realizado um Levantamento bibliográfico e documental extensivo verificando-se assim dados históricos, arqueológicos e cartográficos sobre a área de estudo, incluindo registros de sítios arqueológicos conhecidos, estudos anteriores e relatórios técnicos por exemplo. Na sequência é realizado levantamentos arqueológicos de campo para identificar vestígios e evidências de ocupação humana na área de estudo. Isso pode envolver caminhamentos, prospecções superficiais, uso de técnicas de sensoriamento remoto, entre outros métodos de pesquisa.

Em gabinete é realizada uma análise dos possíveis impactos do empreendimento sobre o patrimônio arqueológico que venha a existir na área de estudo. Isso pode incluir a previsão de danos, destruição, perturbação ou alteração dos sítios arqueológicos, bem como a proposição de medidas para minimizar ou mitigar esses impactos.

Por fim, o PAPIPA é um instrumento importante para subsidiar decisões sobre empreendimentos que possam afetar o patrimônio arqueológico, contribuindo para sua preservação e conservação.

Ficha de Caracterização da Atividade (FCA)

A ficha de caracterização de atividade é um documento utilizado pelo IPHAN  e tem como objetivo fornecer informações detalhadas sobre as atividades que serão desenvolvidas em determinada área.

Essa ficha é o primeiro item a ser produzido no contexto do licenciamento arqueológico e é parte importante do processo de licenciamento ambiental sendo utilizada para registrar dados específicos sobre as atividades planejadas, tais como a localização, o tipo de empreendimento, as técnicas de execução, o cronograma de obras, as áreas de intervenção, entre outras informações relevantes.

A ficha é bastante completa em relação aos dados do empreendimento sendo preenchido o Nome do empreendimento, responsável pelo projeto, a localização geográfica, o município, o estado, é realizado o detalhamento das atividades que serão realizadas no local, incluindo a finalidade do empreendimento, os métodos de execução as características físicas e topográficas da área de intervenção e em muitos casos é previsto um cronograma de obras.

Em resumo, a ficha de caracterização de atividade é um instrumento importante para registrar e documentar as informações relacionadas às atividades que serão desenvolvidas em determinada área, auxiliando no processo de avaliação e classificação quanto ao nível que o empreendimento possui, podendo variar de I, II, III e IV a depender da atividade e interpretação do IPHAN.